Congresso Cancelado
Portugal Restaurado. Memória do 1.º dezembro de 1640
O Congresso Internacional Portugal Restaurado. Memória do 1.º dezembro de 1640, irá ocorrer em Vila Viçosa entre os dias 24 e 26 de novembro de 2022, tendo como enquadramento um acontecimento histórico.
O desmantelamento do Império de Carlos V a partir do século XVII provocou inúmeras guerras na Europa de forma a consolidar territórios e definir fronteiras, como foi o caso da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que envolveu a monarquia filipina e os Habsburgos, os Países Baixos e a França. Neste período configurou-se uma administração territorial que determinou o conceito de Nação implícito na reformulação do Estado Moderno, baseado numa nova visão política e cultural, e que implicou, também, o agravamento dos conflitos de religião entre católicos e protestantes.
Neste contexto, a Restauração da monarquia portuguesa, assumida em 1640 pelos Bragança, teve como aliado maior, além de Inglaterra e Holanda, a França do reinado de Luís XIII, explorando o facto de que esta pretendia assegurar a manutenção das suas fronteiras naturais lutando, ao mesmo tempo, contra o poder dos Áustrias. A diplomacia portuguesa teve um papel fundamental nos acordos estabelecidos em diversos tratados europeus que reconheceram a soberania de Portugal. O rei D. João IV (1604-1656) pretendia restabelecer a linha de fronteira definida desde o Tratado de Alcanizes, e que se afirmou no tratado de Aix-la-Chapelle, em 1668.
Essa reafirmação territorial levou à necessidade de uma política de defesa agregada à Fortificação Moderna, desenvolvida no período da Guerra dos Trinta Anos. Essa Ciência, ou Arte, protagonizou a simbologia do Estado Moderno, baseada na prática e na teoria. Do mesmo modo, a formação do exército foi uma área essencial à afirmação dos vários países. No caso português, estendeu-se aos espaços imperiais e às suas estratégias de defesa face aos ataques holandeses como sucedeu na costa ocidental de África, no Brasil e no Estado Português da Índia.
Nessa perspetiva, foi criado em 11 de dezembro de 1640 o novo Conselho da Guerra, formado por nobres que faziam parte do Conselho do Estado. Este organismo ficaria incumbido da reorganização do exército, com recrutamento obrigatório para as populações, assim como da nomeação engenheiros militares, encarregados de projetar as obras de fortificação necessárias para defesa do reino, após os ataques dos castelhanos, que a partir de 1641 invadiram, por diversas vezes, as terras portuguesas. Foi sobretudo reforçado o investimento do poder político na Arte Militar como uma imagem de modernidade.
Como afirmação da legitimidade da nova dinastia, um inflamado fervor patriótico está presente em todas as expressões culturais, ligadas também à reapropriação das teses sobre a antiguidade de Portugal e a mitos fundacionais, como a Ulisseia e a saga troiana. Por isso, os relatos de batalhas deste conturbado período foram descritos em obras literárias como a História de Portugal Restaurado, do Conde da Ericeira, assim como a Lusitânia Liberata, de António Sousa de Macedo, obras que, em paralelo com a obra do Padre António Vieira, enaltecem a soberania portuguesa.
Também no meio artístico esse reconhecimento teve expressão como forma de propaganda ao invocar a História de Portugal, do Milagre de Ourique à Lenda da Senhora da Nazaré e às vitórias nas Guerras da Restauração, passando por simbolizações de temas histórico-mitológicos como a exaltação da virtude dos heróis troianos (considerando o rei-restaurador, por exemplo, uma espécie de novo Eneias). A pintura portuguesa, de Avelar a Baltazar Gomes Figueira, Diogo Pereira e Josefa de Óbidos, soube explorar tal dimensão política envolvendo de modo esclarecido um combate político comprometido com imagens (pintura, gravura, azulejo) eivadas de uma verdadeira parenética de inflamado discurso.
No contexto da Restauração portuguesa se integra a questão do imaculismo, que se inseriu na problemática da afirmação cultural com D. João IV, nas cortes celebradas em 1646, ao tomar Nossa Senhora da Conceição como Padroeira do Reino de Portugal e fonte de agregação dos seus vastos espaços ultramarinos.
É este o tema que se encontra na base da realização do congresso «Portugal Restaurado. Memória dos 380 Anos do 1º de dezembro de 1640», organizado pelo CECHAP - Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Patrimónios, com a colaboração do ARTIS-IHA da FLUL, e que contará com a participação de diversos especialistas e académicos, com data de realização prevista para os dias 24, 25 e 26 de novembro de 2022, em Vila Viçosa.